Para não enlouquecer

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Quando a saudade é do que nunca existiu: o vínculo fantasma que prende sem tocar

Quando a saudade é do que nunca existiu: o vínculo fantasma que prende sem tocar

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Torresmo
jun 18, 2025
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Quando a saudade é do que nunca existiu: o vínculo fantasma que prende sem tocar
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Você sente falta. Mas falta do quê? Do corpo? Da presença? Ou da ideia? Há relações que, mesmo curtas, mesmo não correspondidas, mesmo platônicas, se instalam com uma força desproporcional. Como se tivessem vivido mais no imaginário do que na realidade. Como se o outro nunca tivesse sido bem ali, mas ainda assim deixasse um buraco real. Um tipo de saudade que não se dirige a alguém, mas a uma possibilidade. A um vínculo que nunca chegou a ser, mas que se agarra à psique como se fosse passado.

Essa estrutura tem nome: investimento libidinal deslocado. A psicanálise mostra que o desejo não precisa de objeto real — ele precisa de enigma. E nada é mais enigmático do que o que nunca se concretizou. A ausência de resolução se torna fertilizante do afeto. O laço nunca vivido, por não ter sido atravessado pela frustração, permanece perfeito. E o perfeito é viciante, justamente porque não exige confronto com o real.

Na prática, isso significa que o sujeito não sofre por amor, mas por ideal. Sofre por tudo que projetou, por todas as cenas que montou, pelas versões de si que construiu no espelho do outro. A ausência é ocupada por ficções minuciosas. E a intensidade do afeto é diretamente proporcional à quantidade de fantasia investida.

O problema é que o luto pelo que nunca existiu é mais difícil de legitimar. O entorno desqualifica: “mas vocês nem ficaram juntos”, “isso foi coisa da sua cabeça”, “supera”. E o próprio sujeito entra em dúvida: “Será que inventei tudo?” O que não se vê é que todo vínculo é simbólico — e o simbólico não depende da concretude. O que foi vivido internamente é real o suficiente para produzir dor, mesmo que o outro nunca tenha estado lá de verdade.

Esse tipo de laço fantasma tem efeitos duradouros. Ele impede o desejo de circular. Congela o sujeito em uma cena imaginária. Reativa compulsivamente lembranças, diálogos fictícios, roteiros de “e se…”. A energia psíquica se mantém aprisionada num tempo que não aconteceu. E o presente vira apenas intervalo entre duas idealizações.


Como desfazer o nó simbólico do vínculo que nunca foi

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