Para não enlouquecer

Para não enlouquecer

Share this post

Para não enlouquecer
Para não enlouquecer
O trauma da paz: por que alguns sujeitos só funcionam no caos
Copiar link
Facebook
Email
Notes
Mais

O trauma da paz: por que alguns sujeitos só funcionam no caos

Avatar de Torresmo
Torresmo
jun 15, 2025
∙ Pago
1

Share this post

Para não enlouquecer
Para não enlouquecer
O trauma da paz: por que alguns sujeitos só funcionam no caos
Copiar link
Facebook
Email
Notes
Mais
Partilhar

Há quem só se sinta vivo quando algo está errado. Quando há tensão no ar, conflito à espreita, uma bomba emocional prestes a explodir. Quando tudo parece calmo, esses sujeitos se inquietam. Desconfiam. Buscam pelo erro oculto. Criam atritos onde não há. Iniciam discussões, sabotam a própria estabilidade, rompem com o que funciona. Porque há um tipo de sofrimento que organiza. E há uma paz que desestrutura.

Freud já havia indicado que o sujeito neurótico não busca exatamente a felicidade — busca repetir. E o que se repete é o trauma. Não o trauma como evento, mas como estrutura de experiência: uma forma específica de se afetar, de se vincular, de existir no mundo. Se o caos marcou o início da vida emocional — conflitos parentais, instabilidade, afeto imprevisível — então é no caos que o sujeito se sente em casa. A paz não é desejável: é insuportável.

Lacan articula isso como gozo: uma satisfação paradoxal que se dá mesmo (e especialmente) na dor. O gozo do caos é mais do que masoquismo — é um modo inconsciente de garantir que o outro esteja presente. Afinal, em muitos contextos familiares, o único momento em que alguém prestava atenção era no meio do escândalo. No silêncio, havia abandono. No afeto tranquilo, havia ausência simbólica. O caos virou senha de amor.

Na clínica, esse padrão aparece em relações cíclicas: o sujeito se aproxima, tudo vai bem, e então algo desanda. Há uma provocação, uma acusação, um distanciamento súbito. E depois, reconciliação. Um novo ciclo começa. Quando se pergunta por que isso acontece, o sujeito não sabe responder — mas se sente vivo nesse movimento. O afeto calmo parece falso. A estabilidade parece entorpecente. O desejo, para existir, precisa da fricção.

Essa dinâmica também aparece fora dos laços íntimos. No trabalho, no cotidiano, na relação com o próprio corpo. A vida precisa ter tensão. Uma crise a resolver, um projeto a salvar, uma tragédia para justificar a ansiedade. Quando tudo se estabiliza, surge o tédio. E o tédio, longe de ser inércia, é o prenúncio do colapso: ou algo acontece, ou o sujeito implode. Melhor a dor conhecida do que o vazio indecifrável da paz.

Mas o que está em jogo, na verdade, é a dificuldade de sustentar a própria existência sem o outro como ameaça ou problema. O sujeito não sabe o que fazer com o próprio desejo quando ele não precisa lutar por ele. Como diz Winnicott, há aqueles que nunca chegaram a existir de forma espontânea — apenas reagem. E o caos é o cenário perfeito para continuar reagindo, sem nunca se construir.

Algumas interrogações para romper esse circuito:

Continue a ler com uma experiência gratuita de 7 dias

Subscreva a Para não enlouquecer para continuar a ler este post e obtenha 7 dias de acesso gratuito ao arquivo completo de posts.

Already a paid subscriber? Entrar
© 2025 Torresmo
Privacidade ∙ Termos ∙ Aviso de cobrança
Comece a escreverObtenha o App
Substack é o lar da grande cultura

Partilhar

Copiar link
Facebook
Email
Notes
Mais